janeiro 28, 2014

Ela

Amor,
ontem vimos um dos melhores filmes da nossa vida. E já vimos centenas de filmes juntos e já sentimos por vezes tudo. Mesmo assim. O cinema nunca nos deixará de surpreender. O melhor é mesmo quando ficamos sem palavras, em que só um beijo seca no fim as lágrimas ficando depositadas ao sabor da saliva e quando ficamos assim sem saber o que dizer perante o silêncio deste presente. E há tanto presente no mundo, uma infinitude de coisas simples ou mais brutais que nos ajudam a compreender a felicidade em torno daquilo que esperamos continuar no futuro, nem que seja no milésimo de segundo seguinte e no seguinte e no seguinte... Se há uma ponta de egoísmo em nós quando projectamos coisas na nossa vida que pensamos ser as melhores independentemente de terceiros ouvindo apenas o que queremos ouvir, falando apenas quando queremos dizer alguma coisa e sentindo quando achamos ter a melhor disponibilidade para sentir, por outro lado é inegável que estamos munidos de uma generosidade maior por, no limite, decidirmos em função do outro e assim apaixonarmos-nos através desta luta eterna entre o que somos para nós e o que queremos ser para outra pessoa ou ter dessa outra pessoa. No fundo, todos procuramos a melhor forma de sermos felizes, nem que seja por imagens, nem que seja por ideias e vivê-las faz-me bem, ainda para mais tendo-as à pele que toca assim a tua. Talvez a principal razão de todas as zangas do universo esteja na falta de balanço, na perda de equilíbrio que tem na sua origem estas batalhas interiores, quase sempre perdidas à partida não deixando por isso de valer a pena serem travadas. Esta vale a pena, digo-te. É verdade que quando crescemos vamos deixando algumas coisas para trás, coisas que dão lugar a outras, outras que dão lugar a novas. Há em nós certamente um esforço grande em encarar as alterações da vida e aceitar as novidades que vão aparecendo por isso desculpa se tem alturas em que não lido bem com algumas coisas e me esqueço do quão bom é ter alguém tão importante na minha vida, como tu, alguém que cuide de mim, que me acaricie à noite e que me conforte ao longo do dia com o saber de estarmos ligados pela magia do pensamento. Será pois isto o amor, eu e tu, pessoas individuais de realidade que se ligam todos os dias e que vivem na certeza de que um dia hão-de morrer nunca uma para a outra, mas sim uma com a outra.
O teu,

1 comentário:

  1. Ainda não vi o filme mas estou bastante curiosa...e o teu texto deixou-me ainda mais! Gostei imenso de o ler, é inspirador e doce porque também partilho dessa visão que descreveste. E a tua última frase deixou-me mesmo emocionada :)

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