abril 10, 2013

As sombras do lobo mau


O cinema vive muito da história que é contada mas também da forma como é contada e mostrada, pelo que confesso que a dimensão visual de um filme, não sendo por si isoladamente um factor de revelação, é um factor muito importante na minha análise e gosto. Não é por si esse factor revelador da excelência que posso ou não atribuir a um filme uma vez que já vi grandes filmes sem prevalência nesse trabalho visual, mas que não deixam por isso de ser grandes filmes. Mas se a composição visual é bem engajada no filme então esta característica ganha um outro destaque e o filme com isso ganha na consideração que faço.
Com certeza que o ciclo noir americano atingiu a notoriedade que ainda hoje é reconhecida pelos imensos seguidores do cinema muito à custa da sua visualidade. Se caracterizarmos o género noir, este aspecto visual entra com todo o propósito em conjunto com outras características transversais, como por exemplo a femme fatale. Mas o que fez o noir foi a imagem, muito mais do que a história em si. Claro que se a narrativa não valer nada, de nada vale uma boa fotografia, mas há que reconhecer que foi o estilo da imagem que deu a identidade.

O filme A Sombra do Caçador (A Night of the Hunter, 1955) merece aqui a referência. Não sendo tipicamente noir no que respeita ao tema ou à forma como é contextualizada a trama, muito dele é escuro oferecendo dos melhores contrastes e composições fotográficas que se fizeram na altura. É que apesar de haver aqui uma certa deriva em relação àquilo que se pode considerar o mainstream da forma explorada no período mais áureo do noir, o facto de se conseguir transportar toda esta carga visual para uma história que bem se podia mostrar às crianças, ainda destaca mais o poder desta característica que torna-se, neste caso, e na simbiose com aquilo que conta, um facto que torna este filme como um dos melhores e mais singulares do género.

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